Certificado Lei geral de proteção de dados

Certificado Lei geral de proteção de dados
Certificado Lei geral de proteção de dados

segunda-feira, novembro 29, 2010

Poder público jogou seu destino no cerco ao Alemão

Pedro do Coutto

Depois de uma série brutal de atentados e vandalismos praticados pelos traficantes no Rio, o poder público do país, sem que a população percebesse diretamente, jogou seu destino na batalha em torno do Complexo do Alemão, onde vivem 400 mil pessoas sob a ditadura do terror. Principalmente o governo do Rio de Janeiro, que teve de aceitar a ajuda do governo federal para enfrentar o inimigo declarado de todo o país. Como Dillinger na década de 30, nos Estados Unidos, o sinistro comércio de drogas tornou-se de fato o inimigo público número um.

No confronto da Penha, tendo como fundo de palco a histórica Igreja da Penha no alto da elevação maior, a luta se travou. A Polícia Militar e a Polícia Civil do estado tiveram que contar com o apoio indispensável e decisivo da Marinha de Guerra, do Exército, da Aeronáutica, da Polícia Federal. Em torno de dez mil homens e mulheres – havia mulheres na PM – encurralaram de 600 a 800 traficantes armados até os dentes, inclusive com armamentos pesados que obtêm misteriosamente não se sabe ao certo como.

O Secretário de Polícia Civil do RJ, Alan Turnowsky, em entrevista ao programa de Haroldo de Andrade Junior, manhã de domingo na Rádio Tupi, afirmou textualmente que, sem a participação das forças militares, não teria sido possível fechar-se o anel do cerco. Com isso, a vantagem alcançou um nível estratégico fundamental: os que integravam as forças do cerco podiam se revezar ao longo das horas e dos dias. Os criminoso não possuíam essa faculdade.

A queda da Bastilha do Complexo do Alemão, assim, tornava-se uma simples questão de tempo. O anel estava fechado desde a tarde de sábado. Abriu-se às primeiras horas da madrugada de domingo. No Complexo do Alemão existem cerca de 90 mil residências. Limitadas por 44 saídas. Rompeu-se uma delas, o anel do cerco afrouxou. O que terá havido? Importa pouco isso no momento. A vitória das forças da lei foi plenamente alcançada. Os criminosos rumaram para outros locais.

Há aqueles que desejavam o seu extermínio, no caso o extermínio de exterminadores, assassinos, promotores da violação de quaisquer regras civilizadas e da desordem generalizada. Desordem com prejuízos incalculáveis à vida humana e a propriedades particulares. Será que a revolta é razoável? Talvez. Mas decisões assim não podem ser tomadas no impulso, na primeira emoção, na vontade de devolver aos criminosos os danos que causaram (e vão ainda causar) ao Rio de Janeiro e ao país.

É preciso considerar que seu extermínio maciço inevitavelmente acarretaria a morte de milhares de inocentes, talvez numa escala superior a dez mil pessoas de bem que habitam o conjunto de favelas, em cuja origem o mesmo poder público é tão ameaçado quanto parcialmente responsável.

Pois não pode haver acordo ou qualquer tipo de pacificação, que embute um entendimento básico, entre partes tão contrárias como são a lei e o comércio de entorpecentes. Os bandidos que se evadiram do Alemão, descobrindo casualmente uma rota de fuga, penso eu, vão se deslocar para outros morros cariocas e continuar suas atividades macabras.

Porém tais atividades sinistras não acabariam se o governo do RJ acabasse com a vida deles durante o dia de ontem. Teve oportunidade de fazê-lo, mas agiu bem em não proceder dessa forma. A meu ver, inocentes não podem morrer entre dois fogos, para os quais não contribuíram. De um lado, as drogas. De outro a corrupção e a omissão. Pois como armas e drogas galgam as sinuosas e íngremes ladeiras do crime organizado e concentrado?

Ontem, pelo menos, o poder público conseguiu explodir pelos ares – que assim seja – um dos principais redutos, senão o principal da violência urbana. Mas haverá outros pelo caminho. A guerra continua.

Fonte: Tribuna da Imprensa

Em destaque

Já temos motivos em dobro para temer turbulências climáticas assustadoras

Publicado em 28 de março de 2024 por Tribuna da Internet Facebook Twitter WhatsApp Email Turbulências se intensificam mais rapidamente nos T...

Mais visitadas