Certificado Lei geral de proteção de dados

Certificado Lei geral de proteção de dados
Certificado Lei geral de proteção de dados

terça-feira, abril 27, 2010

Abuso de popularidade

Carlos Chagas

Há que começar pelo óbvio, ou seja, reconhecer a imensa popularidade do presidente Lula. Tanto faz se pelo bolsa-família, por suas origens operárias, seus improvisos, sua presença permanente nos estados, a máquina espetacular de propaganda posta a serviço do governo, as benesses espalhadas à máquina partidária que o apóia, com os companheiros à frente, sua política econômica neoliberal, a boa vontade dos banqueiros…

A verdade é que o homem ultrapassa todos os limites, nas pesquisas. Importa, porém, atentar para o reverso da medalha. O saco de bondades tem sido tão grande que pouca gente se dá conta do crescimento do saco de maldades.

Só nos últimos dias o presidente Lula decidiu negar o reajuste de 7.7% aos aposentados que recebem pouco mais do que o salário mínimo. Fincou pé e o Congresso só aprovará 6%. Insurgiu-se também o primeiro-companheiro contra o projeto extinguindo o fator previdenciário, única forma de evitar que em poucos anos todos os aposentados sejam nivelados por baixo, isto é, pelo salário mínimo. Menos alguns privilegiados das “carreiras de estado”. Negou-se a suprimir o desconto para a Previdência Social pago pelos aposentados que continuam trabalhando. Sem esquecer sua intransigência em manter o corte de parcelas dos vencimentos de professores universitários, como no caso da UNB, em Brasília.

Em paralelo, ainda por conta da popularidade olímpica, comporta-se o chefe do governo como monarca absoluto, em matéria política. Impôs Dilma Rousseff ao próprio partido, exige a candidatura única, jogou Ciro Gomes às feras e estimula o PT a quebrar acordos nos estados onde a prevalência seria para outros partidos.

Todo esse comportamento exprime abuso de popularidade. Há quem preveja um furo no balão.

Deu cedo demais

Corre o Partido Socialista o risco daquelas meninas que dão cedo demais, logo nos primeiros dias de namoro. Tornando-se fáceis, dificilmente chegam ao noivado, menos ainda ao casamento. Tudo bem, trata-se de uma opção dos tempos modernos, mas é bom tomar cuidado com os resultados. Depois, vão passando de mão em mão, para ficarmos numa fisiologia educada, perdendo as condições de realizar o sonho hoje meio capenga de casar na Igreja e constituir família.

Os socialistas cederam muito fácil à exigência de sacrificar Ciro Gomes. Querem o apoio do governo e do PT nas campanhas de governador em pelo menos oito estados. Se conseguirem um, devem dar-se por satisfeitos.

Barro no ventilador

Por falar em Ciro Gomes, sua imprevisibilidade permanece a todo vapor. Na mais recente entrevista, concedida a uma rede de televisão até a madrugada de segunda-feira, jogou barro no ventilador. Chamou o PMDB de quadrilha, o PT e o PSDB de golpistas e o Lula, apesar de honesto, republicano e decente, de haver errado ao impor uma candidatura única à sua base aliada. Desfez os elogios anteriormente dedicados a José Serra quando exaltou a competência de Dilma Rousseff. Não esqueceu de alfinetar Fernando Henrique Cardoso, para ele ligado a bandidos, sujos e inescrupulosos. Também enfeitou suas diatribes ao investir contra os institutos de pesquisa, salvando apenas o Datafolha, referindo-se ao dono do Ibope como vendedor de resultados, capaz de vender a própria mãe.

Trata-se da reação destemperada de quem se viu traído e alijado da sucessão presidencial por golpes e artimanhas variadas, mas a pergunta continua a mesma: para onde irão os votos de pelo menos 10% dos eleitores que apoiavam Ciro? Pelas pesquisas que ele agora abomina, em maioria para José Serra…

Para aviolência, nada?

Pisam em ovos os candidatos à presidência da República, aos governos estaduais e ao Congresso, evitando falar em profundidade de um dos maiores males que assolam o país, no caso, a multiplicação da violência. Os governistas, porque seria reconhecer o fracasso de suas administrações no trato da questão. Os oposicionistas, porque bandidos também votam, em especial quando seu número aumenta.

No âmbito estadual ou nacional, poderá afirmar-se o primeiro que se dispuser a enfrentar para valer o aumento da criminalidade. A pregar que lugar de bandido é na cadeia, e sem benefícios de espécie alguma. Porque quem vota em número bem superior aos animais é a maioria silenciosa, exposta todos os dias à ação das feras postas fora da jaula, na maior parte dos casos por desídia e incompetência das autoridades.

Fonte: Tribuna da Imprensa

Em destaque

Interpretação correta dos números das pesquisas requer mais do que palpites

Publicado em 28 de março de 2024 por Tribuna da Internet Facebook Twitter WhatsApp Email Charge do JCaesar (Veja) Maria Hermínia Tavares Fol...

Mais visitadas