Por: Carlos Chagas
BRASÍLIA - Evoluiu a discussão sobre se a Venezuela deve ou não entrar para o Mercosul. O debate, agora, refere-se a ser aquele país uma democracia ou uma ditadura. O presidente Lula saiu em defesa de Hugo Chávez, vencedor de várias eleições e plebiscitos. Seguiram-se iguais pronunciamentos do chanceler Celso Amorim, do secretário Samuel Pinheiro Guimarães e do assessor Marco Aurélio Garcia, entre outros.
A história latino-americana mostra-se rica em matéria de interpretações sobre a natureza de regimes e movimentos. John Reed, o genial autor dos "Dez dias que abalaram o mundo", não dedicou sua vida de jornalista apenas à revolução russa. Antes de chegar a Petrogrado, cobriu os dias finais da revolução mexicana, tendo escrito livro imperdível, "México rebelde".
Pois conta John Reed que estava na cidade do México quando lá entraram, lideradas por Francisco Madero, as tropas vitoriosas de Pancho Villa, vindo do Norte, e Emiliano Zapata, do Sul. Milhares de peões a cavalo, chapelão e cartucheiras, percorriam as ruas da capital em grande algazarra, gritando entusiasmadas palavras de ordem, entre as quais sobressaía "Viva la democrácia!"
A grande maioria dos "irregulares" era constituída de analfabetos, camponeses sem intimidade com a civilização e a cultura. O jornalista passou a conversar com eles, pretendendo saber o que queriam e o que pensavam. Fazia uma pergunta comum, a respeito do que entendiam por democracia, e as respostas, quase em uníssono, deixaram-no pessimista: "Viva la democrácia!" era uma saudação respeitosa à excelentíssima senhora esposa do dr. Francisco Madero...
Pois é. A democracia dispõe de incontáveis versões. Quem sabe os nossos companheiros aqui em Brasília reconhecem a existência de democracia na Venezuela pensando na harmonia que caracteriza a vida conjugal do presidente Hugo Chávez.
Tucanos felizes, conpanheiros triste
Foi uma festa a Convenção Nacional do PSDB, realizada em Brasília. Aplausos se multiplicaram todas as vezes em que entravam no plenário os governadores José Serra e Aécio Neves, também com direito a manifestações semelhantes o ex-governador Geraldo Alckmin. Não é qualquer partido que dispõe de três candidatos à presidência da República, todos muito bem respaldados nas pesquisas de opinião.
Os ventos sopram em favor do governador de São Paulo, mas nem por isso devem considerar-se preteridos os outros dois. A política costuma ser dinâmica. Enquanto isso, parecem cercados de pessimismo os preparativos para a realização da convenção do PT. Começam a circular rumores a respeito da próxima pesquisa, agora patrocinada pela Confederação Nacional da Indústria. Enquanto os tucanos lideram as previsões, ninguém no PT consegue passar dos 2%. Nem Marta, nem Dilma, nem Tarso, nem Patrus, que juntos não chegam a 5% das preferências populares. Enquanto isso, Serra com 18, Aécio com 14 e Alckmin com 9 perfazem 41%.
Só numa hipótese os companheiros poderiam manter o poder, se as tendências do eleitorado continuarem como vão: o terceiro mandato para o presidente Lula passa dos 50%...
Já passou
O governo não vai arrefecer, mas nos corredores do Palácio do Planalto já se dá como certa a prorrogação da CPMF pelo Senado, mês que vem. Está sendo decisiva a atuação dos governadores do PSDB em favor do não fechamento da questão, na sua bancada de senadores. José Serra, Aécio Neves, Yeda Crusius, Cássio Cunha Lima e Teotônio Vilela não perderam tempo, enquanto permaneceram em Brasília, por ocasião da convenção que levou Sergio Guerra à presidência do partido. Ele também, como o antecessor, Tasso Jereissati, defende a aprovação da emenda constitucional. Estão pensando em ajudar o tucano que vier a ser o candidato presidencial.
Recrudescimento
Os abomináveis acontecimentos no Rio de Janeiro, nos últimos dias, estão fazendo recrudescer no Congresso a necessidade de saírem da gaveta projetos de mudança nos Códigos Penal e de Processo Penal. Não é por acaso que policiais militares vêm sendo assassinados. O fuzilamento de um capitão do Exército pode ter sido coincidência, mas a verdade é que essa situação de horror não pode continuar.
Exige medidas drásticas, não apenas no capítulo da repressão, mas, em especial, alterações na lei que impeçam bandidos de beneficiar-se de recursos e facilidades para voltar ao crime pouco depois de presos. A maioria desses animais que intranqüilizam as ruas da antiga capital é constituída de reincidentes. De gente que jamais deveria ter sido posta em liberdade.
Fonte: Tribuna da Imprensa
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